sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Bebidas : Leis, caiporas e um santo remédio


Limão, açúcar, gelo e legítima cachaça. O cocktail brasileiro mais conhecido no mundo, a caipirinha é cercada de folclore, tanto em sua preparação quanto em suas origens. Por lei, caipirinha de verdade pode ser com limão fresco ou desidratado, mas usa somente cachaça e não simplesmente aguardente de cana. Não entendeu? Simples, segundo o Decreto Lei 4.062, artigo 91, aguardente de cana é o destilado simples da cana de açúcar ou do mosto. A cachaça é a aguardente de cana produzida exclusivamente no Brasil com graduação alcoólica e características próprias, assim como o brandy produzido em Cognac ou o espumante que vem de Champagne. Esse é o passaporte de nosso drink mais famoso.

Leis e definições técnicas á parte, o nome e criação da caipirinha permanecem ocultas em certa bruma etílica. Alguns dizem que era costume tomar a garapa misturada com frutas, principalmente o limão, devido ao sabor acentuado e potencialmente cítrico. Mais tarde o costume teria se estendido ao destilado alcoólico feito da cana. Outra versão nos lembra velhos hábitos de interior, receitas para cura de resfriados á base de cachaça, limão, alho e mel. Substituir mel por açúcar e eliminar o alho foi apenas questão de tempo, assim como posteriormente a introdução do gelo. Mas como essa mistura singular ganhou o nome de caipirinha? Tudo que sabemos é que a palavra "caipira", que designa as pessoas que residem no interior, se origina do termo tupi "caipora" com o significado de habitante do mato. Exagerar no "remédio" e em suas prováveis variações genéricas não-registradas decerto aguçaria os "sentidos" e permitia a visão de caiporas e curupirinhas pelas matas afora.

Sendo preparada de diversas formas pelo país, com adição de mel ou licor em alguns locais, em 1997 a caipirinha sobe ao panteão dos principais drinks mundiais ao ser incluída entre os Cocktails Oficiais da I.B.A, International Bartender's Association, e ser assim conhecida em mais de 50 países e constar nos cardápios dos mais famosos bares e restaurantes do mundo.



Agora você tem a receita internacional mais brasileira que existe e pode preparar sua caipirinha como os grandes bartenders mundiais:

Ingredientes:

5.0 cl Cachaça
1/2 Limão cortado em 4 fatias
2 colheres de açúcar

Este é um cocktail montado, ou seja, os ingredientes são colocados diretamente no copo. Em um Old Fashioned, aquele copo que o fundo é menor que a boca, coloque as fatias do limão sem o miolo, para não amargar, o açúcar e macere. Acrescente o gelo, cachaça e mexa bem. Use uma fatia de limão para decorar.

Paulo Renault

Causos de Dna. Guiomar


Para inaugurar os "Causos", escolhemos a famosa história do carneiro gigante, acontecida em Itapeva, cidadezinha perdida no interior de São Paulo quase divisa com o Paraná. Aqui, estamos falando de fatos ocorridos entre as décadas de 1930 e 1940 quando Dna Guiomar era ainda uma caipirinha muito da sapeca!

A incrível peleja do carneiro gigante de Dona Gertrudes contra a petizada do grupo escolar



Como era de se esperar de uma cidadezinha do início do século como Itapeva, o "Grupo Escolar Acácio Piedade" era a única escola existente, por isso nela estudavam todas as crianças da região nesses idos de 1938.

Vale lembrar que se o progresso já era um tanto quanto escasso na capital, pode-se imaginar como era o interior naquele tempo. As casas eram verdadeiras chácaras e a criançada crescia livre, subindo em árvores, empinando pipas, brincando com toda a toda a sorte de animais. Rádio? Alguns poucos mais abastados o possuíam... Geladeira? Raríssimas e movidas a querosene! Os fogões eram à lenha e as lingüiças, produzidas com a carne de suínos muitas vezes colegas das brincadeiras infantis, eram penduradas acima do fogão para serem defumadas. Televisão? Nem pensar que um dia poderia existir tal coisa! Assaltantes? Imagina! Um ou outro ladrão de galinhas. Tanto que a cadeia ficava com as portas das celas praticamente abertas a maior parte do tempo.

Pois bem, lá estudava a menina Teresinha, neta de Dna Gertrudes que além de parteira da cidade era também proprietária do tal carneiro. Para ilustrar a figura do bicho, basta imaginar um carneiro de chifres enormes, grande e gordo, com os pelos sujos e cheios de carrapichos. Era de assustar!

Quase todas as tardes no horário de saída do grupo escolar, vinha o bichão caminhando deste o "Mata Fome", bairro meio afastado em que morava a parteira, até a porta do grupo para buscar a neta. Sim, o carneiro ia buscar a menina, afinal estamos em 1938 e os animais realmente andavam livremente pela cidade.

E essa era a hora mais esperada pela garotada! Primeiro, pela ansiedade da espera no ar: Estará o carneirão à nossa espreita?? Sim, pois ao saírem correndo e gritando pelo portão do grupo, o terrível e assustador carneiro gigante ficava enlouquecido e saia em desembestada carreira atrás dos mais afoitos, logicamente entre eles a menina Guiomar.
Era uma debandada geral! Após algumas perseguições mal sucedidas e outras terminadas em "cabeçadas", voltava o gigantesco animal, ar de serviço cumprido, parava ao lado da menina Teresinha como a dizer: Pronto, agora podemos ir! E lá iam os dois para casa. Ela, com o ar resignado de quem teve que ficar olhando a diversão alheia e ele com um sorriso de vencedor em seus lábios caprinos.

No dia seguinte, a diversão da petizada era trocar relatos das terríveis histórias de perseguição e contabilizar cortes e arranhões!